Por
Gutierres Siqueira*
Os blogs[1] nasceram como diários virtuais, especialmente de adolescentes ávidas por paradoxalmente esporem suas vidas nas livres páginas da web. Blogs são páginas pessoais de acesso gratuito na internet, onde por meio de mecanismos simples é possível publicar textos [2], fotos e vídeos. Os blogs começaram a “bombar” no ano de 1999 nos Estados Unidos e foram importantes com agentes informativos em fatos relevantes, como o 11 de setembro e a reeleição do presidente norte-americano George W. Bush[3]. O termo
webblog já era usada em 1997 para definir páginas da internet com aspecto de diário ou caderno. A gaúcha Viviane Vaz de Menezes foi a primeira brasileira a criar um blog, o
Delights to Cheer, era escrito totalmente em inglês e teve início em fevereiro de 1998.
Os blogs são oferecidos por grandes portais com
Google, que detém o mecanismo
Blogger[4]. O
Wordpress é a principal concorrente do
Google e também tem usuários em todo o mundo. Sites com UOL, TERRA, Portal da Editora Abril, Globo e outros também oferecem serviços de blogues para aqueles que assinam o serviços desses sites. O IG foi o primeiro portal brasileiro a aderir à onda dos blogs, criando seu próprio serviço de hospedagem gratuita, o Blig, isso ainda em novembro de 2001. As facilidades dos mecanismos disponíveis e a estética atraem os novatos produtores de conteúdo na web.
Os blogs superaram a fase de meros diários pessoais, sendo hoje uma vasta rede de mini-sites dos mais diversos assuntos. Apesar de ter abandonado o lado “diário de ser”, as páginas dos blogs não perderam o formato de caderno. Esse formato já invadiu até os tradicionais sites. Muitos blogues já fazem muito barulho, principalmente daqueles que falam de política e são sucessos nas páginas virtuais do computadores instalados no Congresso Nacional. Muitos jornalistas que já tinha uma fama considerável aderiram a blogmania. Alguns desses jornalistas aumentaram a visibilidade ao mesmo tempo de se expuseram em polêmicas, como o caso do jornalista Luís Nassif, que criou um blog especialmente para criticar o
modus operandi da Revista Veja. Artistas, cantores, políticos e muitos que já tinham uma página na web resolverem acrescentar blogs em seus sites. A blogmania realmente pegou nos últimos anos, principalmente no Brasil, um dos países que mais acessam a internet no planeta.
O fato mais fascinante para os estudos da comunicação sobre os blogs são a grande adesão de pessoas anônimas que começaram a fazer sucesso por meio dessa ferramenta. Os blogs não tornaram nenhum desconhecido em uma grande celebridade, pois esse novo meio de comunicação não veio concorrer com as chamadas
mass media. Os blogs criam uma audiência um tanto familiar, quando as polarizações se reúnem em torno de temas controversos. Por exemplo: Um blog que defenda ideologias de direita acaba cercado daqueles que se identificam com o tema, assim como atrairá muitos esquerdistas que farão plantão para discordar do que ali for escrito. O contrário também é verdadeiro.
A audiência de um blog costuma ser constituída de fiéis leitores, assim como daqueles que passam uma única vez sobre aquela página. A maior parte dos leitores de um blog não são usuários desse mecanismo, mas gostam dos textos expostos assim como a possibilidade de interação. Blogueiros[5] costumam comentar em outros blogs, pois esse é um meio de aumentar sua audiência, pois outros leram as opiniões que ele escreve, podendo ser atraído para a sua página.
Existem certa de 20 milhões de blogs ativos no mundo, um número muito pequeno diante dos milhões de blogs existentes, pois a cada minuto são criados mais dois blogs no planeta, somando-se aos outros 112,8 milhões que estão na rede, segundo dados de agosto de 2008 da empresa de medição
Technorati A explicação para esse fato é que muitos criam suas páginas, mas não encontram disposição para manter a página ativa, pois é necessário dedicação de tempo regular. Tem quem defenda que em um futuro próximo a maior parte da população terá um celular, uma conta de
e-mail e um blog. O fato é que boa parte dos internautas no mundo ainda não conhecem profundamente esse mecanismo. Segundo últimas pesquisas, 85% dos brasileiros que acessam a internet visitaram uma rede social, como o
Orkut, em setembro de 2008, ficando atrás somente do Canadá. A blogosfera ainda não chegou a tanto...
Relações na blogosfera
Blogosfera é um termo genérico para designar uma rede de blogs que apresentam características em comum. Os blogueiros costumam criar laços com outros blogueiros, principalmente com aqueles que compartilham das mesmas afinidades. Blogueiros que escrevem sobre rock são normalmente freqüentadores assíduos de outros blogs de rock, sejam de desconhecidos ou de algum cantor famoso. A blogosfera cria laços entre pessoas que não tinham uma amizade prévia, o que raramente acontece em ferramentas com MSN e
Orkut. As comunidades do
Orkut costumam agregar pessoas com gostos em comum, mas normalmente essas comunidades apresentam uma baixa movimentação. A blogosfera normalmente não cria comunidades formais, mas os laços entre os blogueiros não deixa de ser constante e mais sólido, pois o que se partilha na blogosfera são gostos e principalmente ideologias. Há a blogosfera marxista, blogosfera dos roqueiros, blogosfera dos profissionais de TI, blogosfera dos fãs da cantara tal, blogosfera evangélica e inúmeras outras.
O blog ainda não tem a mesma credibilidade dos meios de comunicação tradicionais, mas apresentam uma intimidade do receptor (no caso o leitor) muito maior e mais intensa. A TV, o rádio e o jornal impresso formam “auras” em torno dos ancoras, mas enquanto isso os blogueiros tendem a ser pessoas accessíveis, que respondem os comentários, debatem com os leitores e acabam criando uma relação com o seu público. O público responde da mesma forma, criando uma fidelização em sua leitura. O blogueiro Bruno Garschagen descreve bem a relação blogueiro e leitor:
O blogue para o leitor... é uma espécie de amigo íntimo. Isso talvez explique porque os leitores entram em qualquer briga para ajudar seu blogueiro predileto e ficam indignados se o blogueiro não age da forma como eles esperam. É possível ver isso no dia a dia dos blogues. Quem é blogueiro sabe exatamente como é isso. [6]
Há leitores que comentam em todos os textos de um determinado blog. Esses comentários são, normalmente, sempre para ratificar o que ali está escrito ou então para criticar. O engraçado são leitores que discordam totalmente do blogueiro, mas sempre estão visitando a página da discórdia para alimentar sua aversão.
Debates e formação de fóruns
O campo de comentário nos blogs não faz interação somente entre blogueiros e leitores, mas até entre os leitores. Muitos blogs conseguem transformar o campo “comentário” em verdadeiros fóruns, onde os leitores debatem entre si e com o próprio blogueiro. Essa interação é descrita por Beja Santos:
O blogue é hoje matéria prima do consumo digital, é uma entidade madura da Web, tem interações nos auditórios que cria, põe comunidades diariamente em contacto, transforma a rede de conteúdos que é a Internet numa das mais poderosas infra-estruturas de discussão. [7]
Um grande problema nos comentários de blogs são os famosos “anônimos” ou “pseudônimos”, pessoas que normalmente que fazem comentários de baixo calão e escondem a identificação.
Conclusão
Os blogs podem funcionar perfeitamente como meio de aproximação e assim alimentar um aspecto pobre na comunicação de massa, que é a maior interatividade público e produtor.
Notas:
[1] Blogue é a forma aportuguesada de blog. Essa ferramenta é ainda conhecida como webblog e diário virtual.
[2] Os textos em blogs são chamados de post, palavra de origem inglesa que significa informar, inteirar ou publicar.
[3] Os blogs de Deborah Andrade (http://deb.no.sapo.pt) e Cristiano Dias (http://www.crisdias.com.br), brasileiros residentes em Nova York, receberem milhares de novos visitantes procurando por informações a sobre os atentados ao World Trade Center.
[4] Em 1999 o Blogger (http://www.blogger.com) foi criado pela Pyra Labs e depois comprado pelo Google.
[5] Termo para definir os editores de blogs.
[6] GARSCHAGEN, Bruno.
Blogues em debate: blogueiro e leitor. BrunoGarschagen.com. Disponível em <http://brunogarschagen.com/2008/05/19/blogues-em-debate-4-blogueiro-e-leitor> Acesso em 28 de outubro de 2008.
[7] SANTOS, Beja.
Blogosfera, o nosso lugar de conversa na sala digital.. Artciencia.com, São Paulo. Ano II, Número 6, Fevereiro-Abril 2007. Disponível em <
http://64.233.169.132/search?q=cache:h3GztTpgo0YJ:www.artciencia.com/Admin/Ficheiros/BEJASANT358.pdf+futuro+da+blogosfera&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=108&gl=br> Acesso em 28 de outubro de 2008.
autor: Gutierres Siqueira é um dos colaboradores da
UBE e editor do e .