Valmir Nascimento Milomem
Possuir um blog será tão obrigatório quanto possuir um e-mail ou um telefone, quem não tiver um blog se tornará inútil, disse Jonathan Schwartz, Presidente da Sun Microsystems.
Se por um lado ainda é cedo para aferir até que ponto as palavras de Schwartz estão corretas, dadas as constantes e rápidas mudanças que ocorrem no âmbito da internet, noutra vértice, entanto, podemos concluir que ela não está muito distante da realidade. Nos últimos anos os blogs cresceram de forma vertiginosa. A blogosfera inaugurou uma nova era da internet, como escreve Fábio Cipriani em seu livro Blog Corporativo:
“Uma nova era com a consolidação da internet como um grande repositório de dados e agente transformador de processos e meios de comunicação. Uma nova era dentro da própria internet, que, por ser global e encurtadora de distâncias, viabilizou a contribuição, opinião e inteligência em massa. Uma nova era em que as pessoas passaram a gostar de interagir, opinar, participar e ajudar. Uma nova era de constante formação de opinião, reforçada pelo lançamento de websites que potencializam ainda mais a voz das pessoas. A era dos blogs.”
Com efeito, nessa era dos blogs o conteúdo produzido pelos blogueiros representa uma grande parcela do mundo virtual. Os seus pontos de vistas estão sendo considerados. Idéias geradas na blogosfera estão a provocar impactos. E os políticos, diga-se de passagem, começaram a sentir os seus efeitos.
Hugh Hewit em diz que a eleição presidencial de 2002 nos Estados Unidos, por exemplo, foi altamente influenciada por idéias advindas de blogueiros, assim, segundo ele “não importa o que você é ou você faz: todo mundo da informação passou por uma grande revolução, e essa revolução está se estendendo a todos os cantos do planeta. Hoje, todo mundo é um jornalista em potencial, incluindo seu assistente e o office boy. Qualquer um pode ter um blog e um celular com câmera para tirar uma foto sua.
Apesar de no seu início os blogs terem sido considerados por muitos como simples diários virtuais utilizados principalmente por adolescentes ociosos, cujo conteúdo não ia além de relatos nababescos do cotidiano, ou no máximo, algumas dicas de internet escritas por nerds; com o passar do tempo, porém, a blogosfera demonstrou a que veio: abalar a antiga mídia e fazer com que a voz dos seus escritores fossem ouvidas por todos.
O engajamento de jornalistas, advogados, profissionais liberais e estudantes ao mundo da blogosfera mudou drasticamente a concepção inicial dos objetivos dos blogs. A exposição de pensamento sobre os mais variados assuntos do meio social e a construção de críticas pormenorizadas sobre política ou economia, por especialistas nos assuntos, demonstrou que o mundo virtual devia dar um grande valor à blogosfera, e que a mídia antiga deveria abrir espaço a essa “nova mídia”.
Obviamente que quando se fala em opiniões que causam impacto na mídia somos rapidamente levados a pensar em liderança intelectual, afinal, para que determinadas declarações ou idéias possam despertar a atenção dos leitores com vistas a provocar mudanças consideráveis no âmbito a que se destinam, elas devem obviamente terem sido escritas ou pronunciadas por pessoas que possuam credibilidade e influência perante a sociedade e meios de comunicação, de tal forma que suas palavras possam convencer uma grande parcela de pessoas. Esse é o lider intelectual.
O “NOVO” LÍDER
INTELECTUAL
Até o fênomeno da blogosfera o líder intelectual era formado graças à instituição que representava, à Faculdade que havia se formado ou à sua constante exposição na mídia. Dificilmente um “Zé ninguém”, sem “eira nem beira”, malgrado o conhecimento que possuía, conseguiria chegar a ser considerado um líder intelectual, em virtude exatamente da falta de amparo institucional, profissional e midiático.
Ocorre que na blogosfera a liderança intelectual não é mais um monopólio. A demonstração de conhecimento e habilidade para opinar sobre qualquer temática não está condicionada a este ou àquele profissional, da empresa X, formando na universidade Y. Ao revés, a influência nessa nova mídia depende única e exclusivamente da competência intelectual e argumentativa do blogueiro.
Ao abordar esse tema Octavio Ordunã no livro “Blogs: Revolucionando os meio de comunicação” diz que agora, graças aos blogs, “pessoas com qualquer nível de formação ou cargo em uma empresa, profissionais independentes ou até mesmo neófitos em qualquer setor podem difundir seus conhecimentos para um imenso público potencial, composto por milhões de pessoas“. Ele continua:
“Embora seja verdade que nem todos os conteúdosda blogosfera são escritos com esse objetivo e que apenas alguns blogs conseguem isso, a possibilidade de criar e difundir conhecimento por meio dos blogs é real e há muitas pessoas apostando todas as suas fichas nessa oportunidade”.
“Advogados, economistas, consultores políticos, técnicos em informática, jornalistas e, em geral, todos os profissionais comentam sobre o seu próprio setor ou analisam a atualidade a partir de sua ótica particular, ao expor seus conhecimentos e tentar passar sua experiência, mesmo que algumas vezes também exibam suas misérias e ingnorância”.
É verdade que poucos “lideres intectuais” surgiram no Brasil em virtude basicamente da blogosfera. Veja por exemplo o resultado de um pesquisa feita pelo Google em novembro de 2007, onde são apontados as pessoas que mais influenciam o pensamento no Brasil:
pinion maker |
Media organ |
References |
- Arnaldo Jabor
|
O Globo newspaperO Globo TV Channel
|
542.000
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- Reinaldo Azevedo
|
Veja magazine |
526.000
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- Diogo Mainardi
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Veja magazineO Globo TV Channel
|
522.000
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- Luís Fernando Verissimo
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O Globo newspaperO Globo TV Channel
|
489.000
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- Olavo de Carvalho
|
Jornal do Brasil newspaper Diário do Comércio newspaper
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344.000
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- Emir Sader
|
Carta Maior magazineJornal do Brasil newspaper
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313.000
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- Paulo Henrique Amorim
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Record TV ChannelCarta Capital magazine
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177.000
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- Franklin Martins
|
O Globo TV ChannelBandeirantes TV Channel
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169.000
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- Elio Gaspari
|
O Globo newspaperFolha de S. Paulo newspaper
|
143.000
|
- Carlos Heitor Cony
|
Folha de S. Paulo newspaper |
134.000
|
- Augusto Nunes
|
Jornal do Brasil newspaper |
132.000
|
- Tereza Cruvinel
|
O Globo newspaperEBC State TV Channel
|
126.000
|
- Alexandre Garcia
|
O Globo TV Channel |
122.000
|
- Clóvis Rossi
|
Folha de S. Paulo newspaper |
113.000
|
- Eliane Castanhede
|
Folha de S. Paulo newspaper |
103.000
|
- Boris Casoy
|
Jornal do Brasil newspaper |
99.400
|
- Stephen Kanitz
|
Veja magazine |
97.500
|
- Joelmir Beting
|
O Estado de S. Paulo newspaper |
91.900
|
- Fausto Wolff
|
Jornal do Brasil newspaper |
65.700
|
- Mauro Santayana
|
Jornal do Brasil newspaper |
26.100
|
Veja-se que a maioria desses “líderes intelectuais” está ligado a determinada instituição da mídia (seja por meio de uma relação de trabalho ou colaboração), e, nenhum deles surgiu exatamente da blogosfera. Apesar disso, muito coisa está para mudar. Como diz Hewit, a velha mídia está caindo, novas pessoas surgirão para mudar o pensamento do brasileiro. E muitos desses novos líderes intelectuais virão da blogosfera.
Certamente que o resultado das próximas eleições no Brasil poderá ser influenciada por pensadores da blogosfera. Por isso, é bom que os candidatos pensem em estratégias e a Justiça Eleitoral em métodos de fiscalização.