por Valmir Nascimento Milomem - Especial para UBE
Depois de escrever o livro Marketing para a Escola Dominical, ganhador do prêmio Areté na categoria Educação Cristã, o lançou recentemente a obra O Mundo de Rebeca. No livro, Rebeca é uma adolescente que busca explicações para as suas dúvidas - já que enfrenta uma avalanche de contradições entre a "educação cristã" que recebeu e a secular, que agora conhece no Ensino Médio. Seu mundo, o universo cristão, parece não ter nenhum sentido para o "mundo real", vivido por seu colegas e professores. Mas tudo muda depois que Rebeca começa a se comunicar pela "web" com um misterioso internauta.
Os principais conflitos e dilemas enfrentados pelos adolescentes cristãos no campo religioso, científico e comportamental, são retratados, demonstrando-se não apenas como um livro de cunho ficcional para passar o tempo, mas, sobretudo, como uma obra de aplicação prática nos embates do cotidiano.
Dada a atualidade do tema, foi criado um blog especialmente para o livro:
César Moisés é pedagogo, escritor, articulista e conferencista. Atualmente trabalha como professor da FAECAD (Faculdade Evangélica de Ciências e Tecnologia da CGADB - Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil), e com obras de Vida Cristã e Atualidades no Setor de Publicações da CPAD, além de pregar e ministrar palestras em todo o Brasil - principalmente - sobre Escola Dominical.
UBE - Como surgiu a idéia da escrita do livro "O mundo de Rebeca"?
Foi algo inusitado. A idéia nasceu dos questionamentos de minha filha, Céfora. Um dia, após chegar da escola (nessa época ela estava no segundo ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, tinha apenas 7 anos), fez-me a seguinte pergunta: “Pai, Deus criou todas as coisas, mas, quem criou Deus?” Como passei a estudar para responder as suas dúvidas, pensei que problema semelhante deve ser enfrentado por milhares de pais por esse Brasil afora. Foi então que pensei em produzir um livro que, ao mesmo tempo, servisse aos pré-adolescentes, adolescentes, jovens, pais, professores e líderes.
UBE - Qual o paralelo que o sr. faz entre a ficção e a realidade sobre a possibilidade de Deus usar a internet para transformar uma pessoa e também uma igreja?
Bem, muita gente que lê o livro e depois conversa comigo, diz que a ficção é tão vívida que se parece mais com uma história real. Entendo que esse fato se dá exatamente porque procurei encontrar um meio-termo entre o “real” e o “ideal” para que tudo aquilo que temos (na maioria das nossas igrejas e famílias) e que também desejamos em termos comportamentais, relacionais, eclesiásticos, organizacionais aparecesse na trama. Como a web é uma das mídias mais importante da cultura de massa, procurei passar a mensagem de que é possível e necessário a utilizarmos a nosso favor. Já que mais pessoas, dentre as quais principalmente os adolescentes e jovens, estão lançando mão deste recurso, porque não mostrar que ele pode ser, no lugar de um inimigo, um importante aliado na divulgação do Evangelho e dos princípios cristãos? Assim, acredito que, a exemplo do que aconteceu na história de O Mundo de Rebeca, o Senhor pode usar os seus servos para levar a mensagem da sua Palavra onde quer que seja — inclusive a Internet —, para alcançar as pessoas.
UBE - No livro, o sr. aborda várias temáticas além da internet, tais como família, educação cristã e apologia. Qual a intersecção existente entre esses temas?
O que pretendi retratar foi exatamente o ritmo de vida imposto pela pós-modernidade. Se em épocas anteriores era possível desenvolver poucas atividades — o que era bem menos estressante e confortável — acaba sendo impossível no período histórico que estamos atravessando, pois você é obrigado a, simultaneamente, desempenhar diversas funções diferentes. Assim, os pais, líderes e professores acabam tendo de ser, em relação aos adolescentes, um pouco de tudo: amigos, apologistas (os que não apenas defendem, mas os ensinam a defendê-la), educadores, cientistas, terapeutas etc.
UBE - Apesar de ser uma obra ficcional, o livro descreve alguns pontos dissertativos, com a apresentação de cenários e defesa de idéias. Como foi escrever o livro nesse estilo?
Um grande desafio. Principalmente considerando o estilo do Marketing para a Escola Dominical. Sair de um trabalho técnico como aquele e migrar para a ficção, onde você precisa, além de criar uma história interessante, construir cenário, dar vida e identidade a diversos personagens, realmente não é uma tarefa fácil. Entretanto, penso que esta é a melhor forma de alcançar o público teen. Escrever um livro com este tipo de conteúdo, tornando-o atraente e compreensível, inclusive para os pais também, é algo que só se consegue com a graça de Deus e o auxílio do Espírito Santo.
UBE - Um dos problemas suscitados no "Mundo de Rebeca" é a falta de habilidade dos pais em lidar com a fase conflitante dos filhos adolescentes. Como os pais cristãos devem encarar essa realidade?
Nós temos no mercado muitos livros didáticos (cristãos ou não) que explicam como lidar com a educação dos filhos. Acontece que muitos não conseguem fazer a conexão das informações ali contidas com a sua realidade, ou com a família nuclear. Em O Mundo de Rebeca estas informações e demais orientações estão devidamente contextualizadas, é o que chamamos em Pedagogia e Psicologia de “estudo de caso”. É bem por isso que mais e mais pessoas lêem o livro e afirmam: “É a minha história!” Os pais sempre tiveram problemas com a educação dos filhos, pois “talhar” uma pessoa é algo de importância hercúlea, titânica e gigantesca. Se os pais não adotarem a postura recomendada pelo Senhor aos judeus (Dt 6), e do apóstolo Paulo aos Efésios (6.4), continuarão falhando nesta tarefa basilar que lhes foi conferida desde o Gênesis. A idéia é compreender ao máximo a cultura pós-moderna, o estilo de vida dos teens, e apresentar a vida cristã como a melhor alternativa.
UBE - Qual a importância dos blogs na defesa da fé e na anunciação das boas novas?
Os blogs já mostraram que são capazes de revolucionar, inclusive interferindo na cultura, na carreira, nas empresas, na política, na religião, nos relacionamentos pessoais, enfim, em todas as áreas da vida. Há pouco tempo, o pastor Silas Daniel, mencionou em uma matéria no Mensageiro da Paz e também em seu artigo “Pressupostos da igreja emergente”, na Revista Manual do Obreiro, o quanto os blogs têm sido eficientes na disseminação de idéias de movimentos heréticos. Felizmente, em contrapartida, cristãos conservadores também têm cumprido seu papel, combatendo esses movimentos através dessa ferramenta. Já na questão do evangelismo propriamente dito, ainda não vi nada específico. É claro que é preciso que haja blogs voltados para a anunciação das boas novas, entretanto, estes deverão ir um pouco mais além do que apenas informação. Devido ao pragmatismo que impera nestes tempos pós-modernos, as pessoas estão buscando a solução dos seus problemas (na verdade elas querem um resultado paliativo, pois os problemas são efeitos de uma causa), exigindo de um diário virtual, muito mais que informação e sim mais interação, com um mural para pedidos de oração, alguém que empreste seu ouvido para elas contarem seus problemas etc. Neste caso o blog terá que contar com alguns outros mecanismos.
UBE - Como o sr. avalia a qualidade dos blogs evangélicos atualmente?
Há que se reconhecer que existe uma diversidade muito grande entre os diários virtuais evangélicos. Acredito que a motivação é o que mais pesa no momento que alguém resolve expor suas idéias. O pensador mediano sabe ler as “entrelinhas” e o que não está explícito. Temos blogs bons, mas, lamentavelmente, tem muita coisa esquisita por aí que revela muito mais da pessoa que o edita do que das idéias que estão sendo expostas.
UBE - Um blog poderia servir também como instrumento pedagógico? De que forma?
Sem dúvida. O blog — para quem sabe usá-lo — tem sido um poderoso instrumento pedagógico para o ensino. Com ele, as aulas não possuem apenas 45 a 50 minutos, pois os alunos podem continuar opinando, questionando e sugerindo acerca de um determinado conteúdo. Este ato é como se fosse uma tarefa ou dever escolar, entretanto os alunos o farão com prazer e sem perceber que estão envolvidos com aquilo que sempre houve na escola tradicional. Isso também faz com que o professor esteja se reciclando constantemente. Diria ainda que os principais benefícios de se utilizar um blog como instrumento pedagógico, além dos que acabei de mencionar, são: Promover uma maior aproximação dos professores e alunos, trazer experiências extra-classe, tornar público excelentes trabalhos escolares (tanto do aluno como do professor), oportunizar aos pais o monitoramento do que os filhos estão estudando e, como disse, em O Mundo de Rebeca, aprender a “linguagem digital”, pois, em matéria de tecnologia, estamos anos-luz dos adolescentes e jovens.